Em entrevista breve à Zahar, o sociólogo polonês falou sobre o conceito de danos colaterais, empregado em sua obra para analisar os efeitos da globalização da ditadura do mercado na vida contemporânea. A obra foi lançada este mês.
Abaixo, segue a entrevista na íntegra.
> Entrevista exclusiva: Zygmunt Bauman (9/01/2013)
Como poderíamos aplicar esse conceito dos danos colaterais na análise da sociedade contemporânea?
Danos colaterais, um conceito formulado em círculos militares para designar as vítimas não intencionais (inocentes) das operações militares, captura, na minha opinião, traços mais gerais da condição humana na desorganizada, fragmentada e individualizada sociedade atual – marcada pelo divórcio entre poder (a habilidade em ter as coisas feitas) e política (a capacidade de decidir sobre que coisas devem ser feitas). Em todas as áreas da vida nós podemos nos deparar com não planejadas e o não antecipadas (ou nos desculpar alegando inevitabilidade, se antecipado) vítimas de ações que visavam ostensivamente outro alvo, sem conexão e aparentemente distante. Essa situação aumenta consideravelmente um clima de ansiedade em relação a ameaças difusas e incertas...
A ideia de que os indivíduos são responsáveis pelos seus destinos e tem como construir uma vida melhor para si é recorrente nos dias de hoje. Pensar os danos colaterais sob esse prisma significaria mudar o estado das pessoas de vítimas para culpadas?
Você tem uma questão aqui e bastante importante! Todos nós somos “indivíduos por decreto”, o que supõe estar em controle de nossas próprias vidas e, assim, sendo completamente responsáveis pela nossa boa – ou má – existência, que, presume-se, seja resultado de nossos esforços ou da ausência de esforços adequados. Se tropeçarmos e cairmos, não temos ninguém a quem culpar além de nós mesmos... Isso, claro, é uma mentira – já que poucos entre nós, se não nenhum, podem ter um verdadeiro controle em relação as circunstâncias sobre as quais depositamos nossas metas e intenções, então a culpa da falha é, na verdade, compartilhada. Nós somos indivíduos “legalmente”, mas não “de fato”. Os onipresentes “danos colaterais” têm a maior responsabilidade pela largura desse, algumas vezes, intransponível fosso entre estes dois estados.
Danos colaterais, um conceito formulado em círculos militares para designar as vítimas não intencionais (inocentes) das operações militares, captura, na minha opinião, traços mais gerais da condição humana na desorganizada, fragmentada e individualizada sociedade atual – marcada pelo divórcio entre poder (a habilidade em ter as coisas feitas) e política (a capacidade de decidir sobre que coisas devem ser feitas). Em todas as áreas da vida nós podemos nos deparar com não planejadas e o não antecipadas (ou nos desculpar alegando inevitabilidade, se antecipado) vítimas de ações que visavam ostensivamente outro alvo, sem conexão e aparentemente distante. Essa situação aumenta consideravelmente um clima de ansiedade em relação a ameaças difusas e incertas...
A ideia de que os indivíduos são responsáveis pelos seus destinos e tem como construir uma vida melhor para si é recorrente nos dias de hoje. Pensar os danos colaterais sob esse prisma significaria mudar o estado das pessoas de vítimas para culpadas?
Você tem uma questão aqui e bastante importante! Todos nós somos “indivíduos por decreto”, o que supõe estar em controle de nossas próprias vidas e, assim, sendo completamente responsáveis pela nossa boa – ou má – existência, que, presume-se, seja resultado de nossos esforços ou da ausência de esforços adequados. Se tropeçarmos e cairmos, não temos ninguém a quem culpar além de nós mesmos... Isso, claro, é uma mentira – já que poucos entre nós, se não nenhum, podem ter um verdadeiro controle em relação as circunstâncias sobre as quais depositamos nossas metas e intenções, então a culpa da falha é, na verdade, compartilhada. Nós somos indivíduos “legalmente”, mas não “de fato”. Os onipresentes “danos colaterais” têm a maior responsabilidade pela largura desse, algumas vezes, intransponível fosso entre estes dois estados.
Fonte: http://www.zahar.com.br
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